Quando o dente de leite não cai, muitos são os pais que se começam a preocupar.
É compreensível. Afinal, a queda de um dente de leite – ou dente decíduo – é um processo natural da infância e do desenvolvimento da criança.
Mas quando um processo que deve ocorrer naturalmente e sem grandes complicações é interrompido, o que fazer?
Para melhor compreender o que fazer quando um dente de leite não cai, importa começar por entender a razão pela qual isso não acontece.
Os dentes de leite cumprem um papel muito importante no desenvolvimento estrutural da criança. Os dentes de leite ajudam-nos a mastigar e a falar, mas também ajudam-nos a guardar o espaço para o nascimento e o crescimento dos dentes definitivos ou permanentes.
Todo o processo de queda e substituição dos dentes decíduos tem início por volta dos seis anos de idade e decorre até à ao início da adolescência, por volta dos 12 ou 13 anos.
Contudo, por vezes, a verdade é que os dentes de leite podem não cair no momento em que isso seria o mais expectável.
Isso pode ocorrer por vários motivos e os principais fatores que podem contribuir para que os dentes de leite não caiam incluem:
A ausência de um dente permanente ou a falta de espaço para que o mesmo possa nascer são dois problemas distintos, mas que encontram uma linha comum, na medida em que estão diretamente associados à erupção da dentição definitiva.
A falta de espaço para o dente permanente é um fator relativamente comum que faz com que o dente de leite não caia.
Nestes casos, o dente permanente pode ficar retido no osso (não erupcionar) ou desviar-se do seu caminho durante a erupção, impedindo assim que o dente de leite sinta a necessidade de cair naturalmente.
Por outro lado – e mais raro – é a ausência total de um dente permanente. Por vezes, isto acontece devido a trauma, infeções ou anomalias genéticas como a hipodontia (ou agenesia dentária), nas quais o dente permanente, simplesmente, não se forma.
Assim, deixa de existir uma pressão para que o dente de leite caia e o processo atrasa-se.
Um pouco à semelhança do que acontece quando existe falta de espaço para a erupção do dente permanente, pode igualmente dar-se o caso de o dente permanente não encontrar o caminho certo para nascer, desviando-se do padrão.
Quando tal acontece, o dente de leite pode não cair ou atrasar a sua queda.
Isto porque quando os dentes de leite se encontram na sua posição correta, existe espaço suficiente na arcada dentária para que o dente permanente nasça e comece a ir ao encontro da raiz do dente de leite, absorvendo-a eventualmente.
Ao longo deste processo, o dente de leite vai perdendo o acesso à sua raiz, ganhando mais mobilidade e caindo inevitavelmente.
Mas quando existe dificuldade do dente permanente em “encontrar” o caminho certo para a erupção, este deixa de ser capaz de absorver a raiz do dente o que, por sua vez, faz com que o dente de leite continue “preso” à raiz, sem cair.
Uma gengiva muito fibrosa é uma gengiva mais espessa e resistente, dificultando não só a queda do dente de leite como a entrada do dente permanente.
Existe uma influência considerável da mastigação na queda dos dentes de leite.
Normalmente fruto de uma dieta sem a inclusão de alimentos sólidos e consistentes o suficiente, pode acontecer que os dentes da criança não sintam necessidade de exercer força suficiente. Quando este estímulo deixa de existir, a caída dos dentes de leite pode atrasar-se.
Alguns problemas emocionais, nomeadamente aqueles associados à ansiedade ou ao stress pode provocar também a retenção prolongada dos dentes de leite.
Além do mais, algumas situações emocionais mais complexas podem também contribuir para o aparecimento de outros problemas dentários como, por exemplo, o bruxismo.
Seja qual for a razão por detrás dos dentes de leite que não caem, é fundamental que a criança seja devidamente acompanhada por um médico de especialidade: o odontopediatra.
A odontopediatria é uma especialidade da medicina dentária que se dedica exclusivamente à saúde oral das crianças e que não só ajuda a prevenir e a tratar os mais diferentes problemas dentários, como ajuda também a promover uma higiene oral cuidada e a pensar no futuro.
Quando o dente de leite não cai, existem algumas complicações que podem ocorrer devido à sua retenção prolongada, principalmente durante a adolescência.
Entre as mais comuns encontram-se a dificuldade na alimentação adequada (nomeadamente na alimentação de alimentos sólidos), a ocorrência de inflamações nas gengivas, em torno dos dentes de leite retidos e ainda o aparecimento de cáries e outras doenças periodontais.
Existem ainda algumas situações nas quais os dentes de lente não caem, mas o dente permanente consegue nascer, mesmo assim.
Nestes casos, os dentes permanentes podem nascer muito perto do dente de leite ou mesmo atrás deles.
Quando um dente de leite e um dente permanente se encontram muito perto um do outro, podendo mesmo chegar a chocar entre si ou até a ocupar o mesmo espaço, a situação pode dar origem a má oclusão (desalinhamento dos dentes, prejudicando a mordida, a fala e a estética do sorriso), provocar feridas ou o aparecimento de quistos nas zonas afetadas.
Antes de mais, no caso de considerar que os dentes de leite não estão a cair, nunca os tente extrair sem uma análise do odontopediatra do seu/sua filho/a.
Após a avaliação do médico dentista, pode não ser necessário acelerar a extração do dente de leite.
Por isso mesmo, é fundamental que o odontopediatra faça uma avaliação completa da situação, de modo a determinar a causa exata para a retenção dos dentes de leite e assim poder recomendar as melhores opções de tratamento.
A utilização de um aparelho ortodôntico em alguns casos pode mesmo ajudar a acelerar o processo, uma vez que poderá ser a melhor solução para a criação de novos espaços para a erupção dos dentes permanentes.
No entanto, é sempre possível a promoção de hábitos saudáveis que contribuam para a queda dos dentes permanentes, tais como:
Em suma, a retenção prolongada dos dentes de leite é uma situação comum, mas que pode requerer alguma atenção da sua parte.
Estar ciente das possíveis complicações associadas à retenção dos dentes de leite na criança é um primeiro passo essencial. O segundo passo será o acompanhamento especializado por parte de um odontopediatra.